sexta-feira, 5 de março de 2010

QUILOMBOLA - Em letra e música....

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A FESTA DO MARAMBIRÉ NA COMUNIDADE PACOVAL, EM ALENQUER

Meu São Benedito me dê vida em paz
Até para o ano, festejamos mais,
Até para o ano, festejamos mais.
Canto do Marambiré

O Marambiré é uma das manifestações culturais mais significativas do Pacoval, comunidade quilombola com aproximadamente 115 famílias, situada no município de Alenquer.

Conhecido também por Cordão do Marambiré ou Sangambira, é uma manifestação de devoção religiosa que mistura dança, música e muita brincadeira. Trata-se de uma homenagem a São Benedito, o santo negro, que começa dia 25 de dezembro e termina em 20 de janeiro.

Os quilombolas afirmam que o Marambiré começou a ser festejado pela comunidade depois que os mocambeiros se fixaram no Pacoval, fugidos das fazendas de Santarém. Assim explica Dona Cruzinha, moradora do Pacoval:

"Os antigos falavam que depois de alcançarem a libertação eles formaram essas danças; aliás, que essas danças eles trouxeram de lá da África, mas que não podiam fazer porque viviam coagidos. Então, depois que se libertaram, passaram a fazer novamente" ( In : Funes, 1995: 342).

Para comemorar o fim da escravidão, do sofrimento e da perseguição, festejavam o Marambiré agradecendo a São Benedito as promessas alcançadas:

"Nós temos o Marambiré como uma graça, ou seja, temos fé (...) em alcançar graça no cordão do Marambiré, com São Benedito" ( Idem: 343-4).

Para dançar o Marambiré, quilombolas do Pacoval formam uma espécie de corte composta pelo rei do Congo, pela rainha do Congo e suas auxiliares, pelos valsares, pelos tocadores e por contramestre, que também é auxiliar do rei. Essa corte representa os antigos reinados da África Central e está presente em diversas manifestações populares no Brasil.

O rei e a rainha enfeitam-se com coroas feitas de papelão, lata ou fibra natural decoradas com flores multicoloridas de papel crepom ou de papel de seda. A rainha e suas auxiliares usam vestidos rodados e bastante coloridos. O rei veste paletó assim como os valsares. Os tocadores e contramestres vestem trajes de estilo marinheiro (camisa azul e calça branca) e capacetes.

As músicas são executadas com instrumentos feitos na própria comunidade: violão, rabeca, cavaquinho, banjo, pandeiro e caixa. Há cantos específicos para cada parte do ritual.

Antes da apresentação do Marambiré há uma oração. O som da caixa dá o sinal para o início da apresentação e chama as pessoas para participarem do cortejo. Cada componente toma suas posições enquanto o rei do Congo canta a primeira música da festa, o "Forma Forma":

Forma, forma seu pelotão
Esta batalha merece um barão
Forma, forma seu pelotão
Esta batalha merece um barão
Em forma para marchar
Vamos depressa, queremos chegar.

Uma parte deste é realizada dentro da igreja de onde retiram a imagem de São Benedito, levado pela rainha ou por alguém que esteja pagando uma promessa. O cortejo continua na casa desse pagador de promessa e depois segue pela comunidade. É quando há a apresentação das coreografias e dos cantos mais fortes e ritmados. Neste momento, as pessoas que assistem à festa podem entrar na dança também.

Há o almoço coletivo oferecido por quem recebeu a graça de São Benedito. Depois, o cordão junta-se num salão para dançar o lundu ou lundum . Para finalizar o festejo, os participantes seguem em procissão rumo ao rio.

O Marambiré é um festejo sincrético, juntando elementos da cultura cristã e africana e que marca a história e a identidade étnica dos quilombolas do Pacoval.

Escute as músicas do Marambiré:

• Rainha do Congo
[leia a letra • ouça a música]

• Lundum
[leia a letra • ouça a música]



Veja também:

• A história dos quilombos do Baixo Amazonas
• A festa do Marambiré na comunidade Pacoval
• A castanha do quilombo em Oriximiná
• O projeto de educação Mocambo em Óbidos
• A luta pela terra em Santarém
• Fontes consultadas e entrevistas realizadas

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